Não é raro encontrar por aí pessoas que repetem de peito cheio “não quero namorar” ou “não estou pronto para relacionamentos”. Eu sou uma dessas – ou fui, não sei.
A gente tende – com razão – a achar melhor se preservar quando acabou de sair de algo doloroso (e por melhor que seja um término, ele sempre será inevitavelmente doloroso).
O tempo, para gente que tem a dor fresca na pele, é tão importante. Voltar a entender do que a gente gosta, o que a gente é, ter controle total sobre os nossos dias, planos e sonhos. Olhar bem pra dentro e reconhecer os nossos valores.
Será que eu gosto mesmo de tapioca de manhã ou era o costume?
Nossa, que sabor que tem uma pizza de sexta depois do trabalho, eu nem lembrava!
Prefiro vinho a cerveja. Sim, no calor, também.
Eu não sou uma pessoa difícil.
Eu já pulei de uma relação para outra sem ter me dado nenhum tempo e me senti mal, e me confundi muito. Eu – que não sou ninguém pra dar pitaco na vida alheia – sempre acho saudável aquele tempo sozinho, ruminando os caminhos de dentro da gente. Essa coisa de ficar migrando de uma história a outra me soa uma carência latente, quase um desespero para fugir da solidão. Gente que tem medo de silêncio tem medo de si mesma.
Apesar disso a vida não para. E ela atropela a gente com uma história que ninguém planejou, ou que as pessoas, nem as mais insanas, cogitariam que poderia acontecer.
Optamos, porém, por ficar sozinhos. Porque a gente não está pronto.
Andei pensando – mais observando, na realidade – o momento em que essa vontade de ficar sozinho (porque é saudável e bom) vira uma casca impenetrável. As pessoas, às vezes, se convencem tanto (mas tanto!) que devem ficar sozinhas que sabotam seus próprios sentimentos e intuições. O corpo todo diz que sim, cada poro diz que sim, mas o cérebro acha melhor não.
E pior: deixam passar pessoas incríveis, experiências plenas, histórias que ficam sem contar.
É engraçado que nós – os autosabotadores do amor – pensamos: MAS EU NÃO TAVA PROCURANDO, EU QUERIA FICAR SOZINHA.
Eu também não estou procurando emprego, mas eu recusaria uma super proposta?
Eu também não estou procurando uma viagem para o Nordeste, mas eu recusaria se ganhasse um sorteio?
Eu também não estou procurando amigos, mas recusaria um amigo?
Não, não e não. E tem pessoas que aparecem nas nossas vidas que são infinitamente melhores que um emprego, uma viagem ou amigo. Tem gente que só de estar faz da quinta-feira de tarde virar um sábado de sol no nordeste.
Tem gente que não é emprego novo, mas renova o jeito da gente ver o nosso.
Tem gente que não é amigo novo, mas relembra pra gente o que significa cumplicidade.
Não há, eu imagino, nada mais legal do que gente que está inteira nas coisas: no trabalho, nos estudos, nas conversas, nos almoços. Toda vez que a gente acredita piamente que não pode se entregar a algo que está bom, a gente fica pela metade.
E quem tem só metade – eu me lembro de ter escrito uma vez – não tem nada a oferecer.
Que esse texto seja uma lembrança cotidiana que não tem “nada a ver ficar sonhando separado, se no fundo a gente quer o dia a dia, lado a lado”.
Pra mim, pra você, pra quem, mesmo relutando, sabe que tem coisas que a gente não pode deixar ir assim.
Olá Marcela.
Eu adorei seus textos. Voltarei sempre!
Eu tenho um blog também, caso queira ver. http://isabelakerpe.wixsite.com/pravoce
Até logo, beijo grande.